domingo, 6 de dezembro de 2009

Mulher de Ouro

Andando pelas ruas da Vila Brás, entregando os jornais prontos e vendo o sorriso de satisfação dos moradores, deparei-me com um olhar curioso. Não resisti e perguntei:
- Oi, senhora! Tudo bem? Gostaria de um jornal?
- Sim, sim. Quanto é?
- Não custa nada, basta a senhora querer.
- Então posso ficar com três para eu dar para os meus parentes?
- Claro, o jornal é feito pra vocês mesmo.
A missão daquele dia era encontrar pessoas e fazer perfis. Logo pensei: “Vou tentar fazer com essa senhora; é cedo e já fico livre para fazer outras coisas”.
- Senhora! Poderia voltar aqui um instante?
- Oi! Fale.
- A senhora já saiu no jornal Enfoque Vila Brás?
- Não, nunca.
- Gostaria de sair?
- Espera só um pouquinho. Vou ver o que meu marido acha.
Neste momento, a senhora, com um jeito de sofrida, esboça um leve sorriso. Foi o bastante para os seus dois dentes de ouro, na parte inferior de sua boca, mesclarem-se com o ar de satisfação pelo convite.
Ela grita:
- Amor (toda carinhosa como se quisesse conquistar um ‘sim’ com sua voz de apaixonada), o que você acha de aparecer no jornal? Posso dar uma entrevista? A equipe está aqui na frente!
- Não. No jornal, não! Eu não quero (voz ríspida).
O marido dela nem apareceu. Só deu para ouvir sua voz de longe e as marteladas que dava em uma mesa. A mulher, que antes tinha um motivo de felicidade, pára na minha frente, inclina levemente sua cabeça para baixo e, cheia de convicção, fala:
- É... Eu não quero mais sair não. Deixa para outra vez, quem sabe na próxima ele esteja com bom humor.
- Mas senhora, ele disse que ELE não gostaria de sair, não disse nada sobre a senhora participar.
- O que o meu marido fala para mim é lei. Eu não faço nada sem a permissão do meu marido.
Ouvindo essas palavras, vou me distanciando lentamente de sua casa com a certeza de que, durante esse dia, a mulher vai ficar sonhando em como seria sair em um jornal e, assim, seus dentes de ouro vão continuar sendo a coisa mais brilhante de sua vida.