domingo, 14 de setembro de 2008

Presídio feminino oferece curso universitário a detentas.


A penitenciária feminina Madre Pelletier é a primeira no Brasil a oferecer curso de ensino superior. As detentas e algumas agentes penitenciárias cursam serviço social. O curso é oferecido em parceria entre a superintendência de serviços penitenciários do Rio Grande do Sul (SUSEPE) e do centro universitário metodista – Instituto Porto Alegrense (IPA). O curso conta com a infra-estrutura própria e foi implantado em 2006, com 60 vagas distribuídas entre 23 internas com ensino médio completo, e 48 funcionários da SUSEPE. Não existe diferenciação do curículo do curso das detentas para o das funcionárias. O modo de ingressar no curso é através do vestibular, seu objetivo é pesquisar como a educação age como ferramenta de inclusão.

Esse é o caso de Anajara Gomes, que cumpre pena de 24 anos por latrocínio e está cursando o ensino superior. A detenta nunca havia imaginado que fosse possível cumprir sua pena e ao mesmo tempo ter a oportunidade de sair formada e pronta para garantir os direitos de outros cidadãos.

O IPA oferece todo o material necessário para que as detentas possam estudar dentro da penitenciária. Desde livros, xerox, até uma pequena biblioteca. As aulas são todos os dias da semana no turno da noite. Dentre as disciplinas do curso estão: movimentos sociais, teoria e economia política, filosofia, sociologia e responsabilidade social. Nos próximos meses será realizado no instituto Porto Alegrense a semana acadêmica, podendo haver chances de participação das alunas do Madre Pelletier. Diante disso Anajara mostra-se emocionada e feliz com a possibilidade de sair pela primeira vez depois de 4 anos e ver com os seus próprios olhos as grandes mudanças ocorridas na sociedade: _ “Tenho medo da reação das pessoas quando souberem que eu sou uma presidiária, mas espero que dê tudo certo”. “ Quando eu entrei aqui, deixei para trás meu celular que era um tijolo, agora parece que existe um que eu posso ver até a outra pessoa na tela”. “ O que é essa onda de mp3??não faço a mínima noção do que seja isso...entram várias músicas em um lugar só né?”.

Quando questionada se havia preconceito dentro da sua sala de aula por parte de funcionários e professores, Anajara respondeu que no início havia uma certa desconfiança, mas que depois de um tempo as pessoas foram se acostumando:_ “Não existe nenhum tipo de preconceito, todos são tratados iguais. No momento que a gente entra na sala de aula não existe apenados e funcionários e se existir alguma coisa é da sala de aula prá fora". "Fora da sala de aula eu não tenho queixa de nada, os funcionários aqui dentro são autoridades, se souber respeitar aquela autoridade vai ter o tratamento que merece".

Cebolinha, assim chamada dentro do presídio, pois trocava a letra “r” pela letra “l”, acredita que tem condições de conseguir se reintegrar na sociedade após cumprir sua pena. Depois que começou a fazer o curso dentro da penitenciária sua vida mudou completamente. Virou uma pessoa mais concentrada e com vontade de lutar para ser alguém com um futuro promissor. Quando sair para o regime semi aberto concebido depois de cumprir 4 anos da sua pena em regime fechado, ela terá um ideal de vida para lutar. Seu sonho é ajudar as pessoas e afirma: _“Nunca mais quero voltar à vida do crime. Se um dia eu voltar para o sistema carcerário será por ordem da autoridade, por delito jamais. Tenho convicção e certeza que eu posso sair daqui e ser uma boa profissional, vou ajudar a sociedade e não mais prejudicar".

O presidente da comissão de cidadania e direitos humanos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, o deputado Marquinho Lang afirma que: _ " Se as detentas não tiverem uma educação, elas automaticamente irão voltar para a vida do crime. Esta é fundamental para elas conseguirem oportunidades e empregos quando acabarem suas penas".

* O Instituto Porto Alegrense (IPA) foi procurado, através da coordenação do curso, mas não quis manifestar-se.

* Fotos por Bruna Schuch.

2 comentários:

Anitz disse...

Bruninha, que sensibilidade em fazer uma matéria dessa, e como foi bom ler isto e descobrir que isto é uma realidade acontecendo!
parabéns!

beijao

Giovana disse...

Eu como aluna do IPA, fico muito feliz de saber que o Centro Universitário IPA esta ajudando, não somente a sociedade, mas a estas mulheres a terem um futuro melhor. Bruna, parabéns pela reportagem, muito bonita e completa, espero que na próxima a coordenação do curso se manifeste.

Beijos Gi