quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O tradicional vendedor ambulante do parque da Redenção.


Quando eu era pequena sempre passava por ele e ficava admirando os seus balões. Jamais imaginei que 15 anos depois eu iria entrevistá-lo, muito menos que ele ainda estaria vivo.

Na época ele vendia bolas gigantescas que uma criança mal conseguia segurar. Lembro que em uma tarde, minha mãe comprou um de seus balões. Era um peixe enorme, mais parecia uma carpa. Tinha tanto gás que ele flutuava contra o céu azul. Ele amarrou o barbante no meu pulso e eu voltei saltitante para casa.

Tudo isso durou pouco, o barbante soltou do meu pulso e o peixe foi voando em direção a uma árvore e logo depois para o céu. Eu gritava e chorava: - Mamãeeeeee...pega um avião e vai buscar meu peixe, não quero que ele nade no céu. Ele não sabe nadar no céu, ele vai MORRERRRR.

Gentilmente minha mãe se abaixou para ficar do meu tamanho (sim, já fui baixinha um dia), passou a mão na minha cabeça e falou: - Calma Bruna, domingo que vem te dou outro balão.

Minha mãe não entendia o que aquele peixe, em poucos minutos, representou na minha vida *rsrsrs, - crianças sempre exageram um pouco - e eu entendia muito menos quando seria domingo que vem. Eu estava programando altos papos com ele quando chegasse em casa. Assim ela (minha mãe) poderia ler o seu jornal sem a minha interferência, e eu conversar com meu amigo peixe em paz.

E assim, fomos caminhando devagar em direção a nossa casa, em um domingo quente de verão, com a brisa batendo em nossos rostos. Logo eu troquei meu amigo peixe por um delicioso sorvete.

Juares da Silva Oliveira, 76 anos, nasceu em Porto Alegre e com apenas três anos de idade perdeu sua mãe. Seu pai casou-se novamente. Por isso, estudou somente até a terceira série, tendo que parar para poder trabalhar. Há 59 anos está na Redenção atuando como vendedor de balões. Juares garante ser o primeiro morador de rua de Porto Alegre, em 1946; ele dormia sozinho no viaduto da Borges de Medeiros com apenas 14 anos.


Pararealidade: Quanto tempo você trabalha com balões?
R: Há 59 anos. Comecei com 17 anos na parte dos macaquinhos da redenção. Lá do outro lado. Era onde havia a maior concentração de crianças.

Pararealidade: Com o que você trabalhava antes de trabalhar com balões?
R: Já trabalhei em uma fábrica de vidro, fábrica de calçados. Em uma dessas fábricas eu fui despedido porque um colega meu veio brigar comigo de faca, me cortou e eu sangrei muito. O dono da fábrica disse que iria demitir o agressor e eu porque sangrei. Vê se pode.

Pararealedade: Como surgiu a idéia de trabalhar com balões?
R: Essa idéia surgiu porque eu via que dava dinheiro.

Pararealidade: Qual o seu faturamento diário?
R: Eu consigo tirar um salário mínimo e meio por domingo. Quando chove é um caos porque deixo de ganhar.

Pararealidade: O que o senhor faz durante a semana? Trabalha em outro lugar?
R: Durante a semana eu dedico o meu tempo na fabricação de cata ventos para vender aos domingos.

Pararealidade: Você tem família? Filhos? Quantos ajudam você aqui na redenção?
R: Sim. Tenho mulher e ao todo são 15 filhos vivos. Uns quatro somente ajudam aqui.

Pararealidade: Dá para sustentar todos da sua família e conseguir sobreviver ao mesmo tempo?
R: Antigamente eu ganhava muito mais. Hoje as vendas caíram 80%, mesmo assim, vale a pena. Agora tenho filhos maiores, alguns já trabalham e já constituíram famílias. Fico triste porque só um vai conseguir se formar no colégio, os outros abandonaram. Eu continuo com esse negócio porque não vou conseguir arrumar outro serviço.


Pararealidade: Se o senhor não trabalhasse com balões, com o que gostaria de trabalhar?
R: Com essa idade que eu estou agora, acho que eu deveria montar uma fruteira para mim e parar um pouco de trabalhar na rua e de viajar.

Pararealidade: O senhor costuma trabalhar com os seus balões em outros lugares sem ser a redenção?
R: Sim. Na festa da uva, festa da soja, festa do vinho, expointer. Teve uma época que na feira da uva e na do vinho consegui ganhar 130 mil reais. Eu sempre fui muito festeiro, gastei tudo com churrasco, convidei muitas pessoas.

Pararealidade: Mas porque o senhor não guardou todo esse dinheiro para garantir um futuro melhor?
R: Toda vida fui festeiro. Eu tendo dinheiro é churrasco e festa pra todo mundo. Não adianta nada ficar com dinheiro, a gente vai morrer e não vai levar nada. Vou deixar para meus filhos brigarem?? é melhor gastar, comer, beber e se divertir.

Pararealidade: Você paga alguma coisa para ficar na redenção?
R: Absolutamente, nada.

Pararealidade: Como o senhor faz para transportar esse carrinho cheio de balões? R: Esse carrinho eu guardo na Venâncio Aires. Ali tem uma farmácia. Nos fundos da farmácia, do lado, tem um lugar que guarda carros e eu guardo o meu ali. Faz quatro anos que guardo meu carro ali e nunca deu nenhum tipo de problema. Pago 75 reais por mês.

Pararealidade: Qual a idade das crianças que compram os seus balões?
R: Tem crianças de um ano e meio de idade que passa e já pede para os pais. Então eu diria de um ano e meio de idade até crianças de 12 anos.

Pararealidade: Qual a média de preço dos balões?
R: Nós vendemos os mais simples por 10 reais, no shopping eles vendem por 20, 25 reais. O que eu vendo muito são os cata ventos. É uma fabricação minha, em média custam quatro reais, depende do cata vento. Se eu pegar uma garrafa de pepsi eu consigo fabricar dois cata ventos e lucro em torno de oito reais. O cata vento de plástico é mais resistente, não arrebenta.

Pararealidade: Qual o balão que mais vende?
R: O avião da TAM vende muito. Depois o Homem Aranha e a Moranguinho.

Pararealidade: Quais os meses que mais te dão lucro?
R: De Maio a Outubro, principalmente no dia das crianças. O movimento para um pouco nas férias. Procuro ir para a praia trabalhar.

* AVISO: É terminantemente proibido roubar as fotos deste blog sem autorização prévia. Caso você ouse fazer isso, você terá um repentino aneurisma cerebral...em...5...4....3...2...1 . Prazer em conhecê-lo.

10 comentários:

Carol disse...

É um clássico da redenção, certo?
Eu comprei uma vez um balão de papagaio...ele murchou lá em casa!!

Adorei a matéria, demais!

beijao!!

Anônimo disse...

Sábado vou vender balão na redenção!hehehe

Muito legal conhecer a história desses personagens clássicos de Porto!

balão na redenção é MARA!

Anônimo disse...

Pôxa, lá na minha cidade não tinha esses balões... buááá... hehehe

Hmmmm, 130 mil.. acho que vou mudar de profissão! :P

beijosss

Simone Bertuzzi
www.acrossthemusic.wordpress.com

Anônimo disse...

Oi Bruninha.

Sabe, suas matérias estão bem legais, mas eu gostei dessa em particular porque você contou uma experiência sua primeiro. Você contou muito bem, eu imaginei as cenas. Gosto muito do seu humor também.

beijos e saudades.

OBS: Fotos bonitas.

Bruna Schuch disse...

Anitz: Sinto muito pelo seu papagaio.

Carol: Vou junto com você. *rsrsrs.

Simone: Não sei se é "vero".

Thaise: Obrigada pelos elogios. Vou tentar aprimorar mais esse lado então.

beijos para todos.

Xuki

Giovana disse...

As vezes eu paro e penso...toda criança tem futuro se ela quiser? esta é uma historia que prova que sim...mas apesar da falta de estudo entre outras coisas...ter 15 filhos vivos, é bem complicado! Se pararmos para pesar ele ganha em média R$ 1.500 por mês, caso ele não tivesse tantos filhos talvez, pudessem terminar os estudos ou até fazer uma faculdade. As vezes penso que falta um pouco de orientação do governo. Como seria a vida dele caso tivesse 2,3 filhos??
O bom que as vezes o mundo é justo, talvez não tenha dado dinheiro nem "berço" para ele, mas deu talento necessário para se sustentar... História bonita de se contar!!!

Parabéns!!!

Giovana

Anônimo disse...

Gente.. acho que vou mudar de profissão tb... hehehe
Não sei se isso é bom ou ruim, mas o cara não estudou, fez um monte de filho, consegue sustentá-los e não incentiva eles a estudar??? Essas coisas me deixam de certa forma indignada! Ah, e ainda por cima gasta tudo com churrasco?!?!?! Tudo bem que a gente morre e não leva o dinheiro, mas será que ele não pensa no futuro dos 15 filhos? E outra, não sei se entendi mal, mas ele gastou 130 mil em churrasco?? Bah, devia ter só picanha, maminha e filé mignon! hehehehe

Bruna, diz pra ele que quando quiser convidar a gente pra uma dessas festas estamos aí... hauhauahuahua

bjos guria e muito bom o blog!

Bruna Schuch disse...

Camilaaaa!!!

Tô rindo muito com o seu comentário.

Por isso estou gostando de fazer meu blog, além de fazer matérias sérias e outras nem tanto, estou conhecendo várias histórias interessantes.

Acho meio absurdo gastar 130 mil em um churrasco. Perguntei umas 3 vezes: - o que?? 130 mil?? não seria 130 reais? quem sabe 13 mil? (que já seria um absurdo). Mas não...ele repetiu as 3 vezes 130 mil.

Só deveria ter carnes nobres mesmo!!*rsrsrs.

Vou falar com ele no próximo domingo. Na última aula de J. online vai rolar um churras feito e comprado por ele. *rsrsrsrs.

beijão

Bruna Schuch disse...

Camila continuação...

Ele disse que se deixar o dinheiro para os filhos, eles iriam brigar muito.

O lance do estudo:

Ele não teve uma criação muito boa. Se você não é cobrado (acompanhado) quando é criança (onde você forma sua personalidade), você vai se perdendo. Mas enfim...também fico indignada com isso. Pow...15 filhos e apenas um querendo acabar os estudos. É foda.

bjsbjs

Dieines Fróis disse...

Giovana ta certo ele ganha em média R$ 1.500,00 por mês, sim. Ah mas se ele tivesse menos filhos, hoje em dia é complicado, as pessoas não pensam nas conseqüências, não pensam no depois, só no momento e outra quanto menos tem renda, mais filho... algo totalmente sem sentido, mas é assim, se a gente for analisa, o porquê, eu não sei.
Concordo quando tu diz que o mundo é justo e deu o talento, mas acredito que talento todos tem, só que infelizmente a vida é mais fácil para algumas pessoas...
Analisamos o caso dele, ele preciso rala pra chega onde chego, muitos já nascem sem precisar fazer muito esforço. Nessa parte acho que se encaixa o governo... na distribuição de renda!

Camila, também me indigno com a mesma causa que tu, mas ta certo ele não estudo e tal, só que a gente não sabe se ele sente falta disso hoje....em nenhum momento ele disse que “ah se eu tivesse estudado poderia ter uma vida melhor”...

Enfim, Bruna....
Adorei todas tuas matérias, mas está em especial como eu já havia te comentado...porque tu “te mostrou” mais no texto, explorou mais o pessoal... muito bom... a história realmente faz a gente imaginar as cenas ao ler, como disse a Thaise...

Parabéns pelas matérias!!