quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Um homem solidário


Pessoas educadas, generosas e que nos encantam com sua maneira de viver não encontramos todos os dias. Eu encontrei todas essas qualidades em apenas uma pessoa: Rubens de Freitas, 26 anos, oito deles morando na Vila Brás (em São Leopoldo).

Para manter-se, ele vende rapaduras. Porém, não são simples rapaduras, são doces gigantes mais parecidos com pés de moleque. Rubens sai para trabalhar às oito horas da manhã e só volta para casa com a caixa vazia. Sai com 25 rapaduras e se vender todas pega mais para vender. A média são 60 rapaduras vendidas por dia, cada uma a R$ 2,50.

Para isso, caminha pela vila inteira e vai batendo palma na frente das casas. Na Brás ele só trabalha aos sábados e durante a semana vende em outros bairros e cidades. Duas vezes por semana pedala até Sapiranga, onde fica a fábrica de rapaduras. Demora cerca de uma hora e meia na ida e volta.

Todo seu esforço e comprometimento com o trabalho não ajudam a manter somente ele. Sua renda vai para as despesas da casa, onde mora com seus pais e mais quatro irmãos, e também para o seu irmão que está na prisão.

Vamos conferir essa emocionante história, onde o amor pela família fala mais alto.

Pararealidade: Você trabalha sozinho? Ou alguém da sua família te ajuda?
Trabalho sozinho. Só trabalho com rapaduras porque não consigo arrumar um emprego de carteira assinada, hoje em dia está bem difícil. Sou vidraceiro profissional e estou vendendo rapaduras há seis meses.

Pararealidade: Tem algum fato interessante para contar de algum cliente que não tinha dinheiro para pagar uma rapadura?
(risada) Sim, vários. Esses dias eu cheguei em uma casa e uma guria queria uma rapadura, mas não tinha dinheiro para comprar, aí a mãe dela veio com uma Tele Sena velha. Ela me perguntou se eu não queria uma Tele Sena velha por uma rapadura. Disse que não aceitaria porque sou evangélico. Então acabei dando a rapadura para a guriazinha. E na outra vez a mulher queria me dar uma bateria de carro em troca de uma rapadura. Disse que não tinha como aceitar uma bateria de carro.

Pararealidade: Você segue alguma religião?
Faço parte da Assembléia de Deus Purifica Brasil. Sou Evangélico, acredito em Deus e sou muito religioso. Se tiver culto eu vou toda a semana.

Pararealidade: O lucro das rapaduras é só para você?
Não. Eu divido em casa. Eu ajudo também com as despesas do meu irmão que está no presídio. Todo mês eu junto um pouco para pagar o que ele come lá dentro. Eu separo um pouco do dinheiro das rapaduras e meu pai um pouco da aposentadoria dele.




Pararealidade: No presídio não tem comida para os presos?
É que assim, dentro do presídio tem uma cantina, ele come ali e pagamos por mês. A comida do presídio é muito nojenta. Comendo na cantina sabemos que ele está se alimentando bem e ficamos mais tranquilos.

Pararealidade: O que teu irmão fez para estar lá?
Ele era traficante. Vou te explicar: Meu irmão virou traficante pela esposa dele, a guriazinha dele estava doente e ele não tinha serviço e estava com a perna quebrada. Fez algumas coisas pra poder ganhar dinheiro. Não foi porque ele quis, infelizmente foi essa solução que ele achou, uma maneira errada de ganhar dinheiro. A guriazinha estava precisando de óculos e estava com pneumonia. Teve que fazer pelo lado pior.

Pararealidade: Quanto tempo ele ficou nessa vida?
Ele ficou nessa vida um mês e foi pego. O nome dele é Giovani de Freitas, 35 anos. A menininha está melhor, cresceu bem forte. Não sente falta do pai, não pq não se dava com ele, mas sim porque era pequenininha, não se lembra direito. Há oito meses que está na prisão.

Pararealidade: Um sonho que você tenha?
O meu sonho é ver meu irmão sair do presídio e ver minha família ser feliz de novo como era antigamente. Minha família ficou meio chocada, desestabilizou um pouco. E para felicidade voltar de novo ele tem que sair de lá.

*Confiram as fotos que não foram escolhidas para a matéria acessando o flickr do blog.

1 comentários:

Anônimo disse...

Adorei seu blog! Bonito e criativo. E essas pessoas a quem você dá atenção, também incendeiam o meu imaginário toda vez que cruzo com elas nas ruas! bjs. Deborah